quarta-feira, 15 de abril de 2009

Dificuldade de aprendizagem: falta de formação ou informação?


Este texto tem como objetivo apresentar os mais variados distúrbios que podem levar a criança a ter dificuldades em sua aprendizagem, como acontece, por exemplo, no papel da atenção, do ponto de vista neuropsicológico, destaca que são trabalhadas três redes independentes, que são a rede de orientação, de execução e de alerta. Se a criança não consegue manter-se em estado de alerta por muito tempo é necessário que o professor crie condições para que a rede executiva entre em trabalho e a criança faça a tarefa proposta. No entanto, esse tão complexo caminho é desconhecido por muitos profissionais que atendem as crianças e as rotulam como hiperativas, desatentas, lentas, entre outras nomenclaturas que acabam mostrando que a falta de formação e de informação desses profissionais contribuem para o aumento do índice de evasão. Frente a estes pressupostos teóricos, temos na prática que dificuldade de aprendizagem é a característica mais apontada pelas pesquisas para a crescente evasão escolar. Dados demonstram que é alarmante o número de crianças que saem da escola. Ceccon (1986, p. 24) destaca que apesar de a lei dizer que a educação é um direito e um dever de todos, as portas das escolas estão fechadas para muitos. Numa análise dos dados de 1986 com dados atuais, como os do INEP, percebemos que tais índices aumentam e que, além da pobreza, aspecto ressaltado por Ceccon (1986), outras nomenclaturas foram criadas para justificar o índice de evasão e repetência. Dentre eles estão o déficit de atenção, a dislexia e a hiperatividade. Segundo American Psychiatric Association (1987), as crianças hiperativas ou aquelas diagnosticadas como tendo transtorno de déficit de atenção/hieratividade (TDAH) manifestam em seu desenvolvimento níveis inapropriados de hiperatividade, impulsividade e falta de atenção, que tipicamente iniciam bem cedo na infância ou até o meio dela, sendo relativamente prevalentes em todos os ambientes e produzindo dificuldades nas principais atividades da vida. A falta de informação é o adjetivo ideal para se rotular as escolas frente às crianças com dificuldade de aprendizagem. A escola procura na família uma forma de solucionar o “problema” que ela própria não sabe qual é, nem mesmo o que fazer e muito menos que rumo tomar. A família por sua vez sente-se impotente frente à situação. Nesse jogo a criança é a maior prejudicada. Para firmarmos este ponto cabe destacar que Fischer (2002) lembra que durante o desenvolvimento, as crianças que têm hiperatividade, ou TDAH, estão sob o maior risco de dificuldades no aprendizado, reprovações escolares e relacionamentos sociais prejudicados. Du Paul (1998) e The MTA Cooperative Group (1999), ressaltam que um dos tratamentos mais efetivos e mais usados para hiperatividade/TDAH é a medicação estimulante. Destacando em suas pesquisas que cerca de 74% a 97% das crianças em idade escolar com TDAH respondem positivamente a qualquer estimulante. Estes medicamentos, ainda segundo as empresas acima, frequentemente resultam em redução notável da hiperatividade, impulsividade, falta de atenção e comportamento socialmente agressivo, enquanto aumentam vigilância, tempo de reação, persistência nas tarefas, produtividade, memória, qualidade da escrita, velocidade motora mais delicada e coordenação em geral.Frente a estes pressupostos, vemos que a falta de informação e formação é a mola propulsora para a indústria farmacéutica, que amparada pelo conselho de medicina, cresce de “vento em popa”. Segundo Godoy (2003), em uma pesquisa realizada em 2001 em Maringá – PR, 50% das crianças matriculadas em Salas de Recursos (140 crianças no total) apresentavam queixa prediagnosticada como dificuldade de atenção e de aprendizagem. Porém, o que se vê nas escolas é mais um problema de “ensinagem” do que de aprendizagem. Em outras palavras, o problema é pedagógico e não do aluno. Godoy (2003) que relata que a medicina avançou muito na compreensão das alterações estruturais e funcionais da respiração oral. A autora lamenta não ver o mesmo avanço no campo educacional, onde uma parcela significativa dos professores desconhece a importância da respiração nasal para o bem-estar físico e mental da criança, bem como para o seu desempenho escolar. Desta forma, os problemas de aprendizagem, déficit de atenção, hiperatividade, merecem aqui serem discutidos já que o conhecimento acerca do que ocorre na educação infantil, etapa básica para o desenvolvimento do indivíduo, dever da família, da sociedade e do Estado (Constituição 1988). A atenção, do ponto de vista neuropsicológico, pode ser trabalhada em três redes independentes, que são a rede de orientação, de execução e de alerta. Se a criança não consegue manter-se em estado de alerta por muito tempo é necessário que o professor crie condições para que a rede executiva entre em trabalho e a criança faça a tarefa proposta. A leitura e a escrita, por exemplo, tem sido objetos de intensas pesquisas psicológicas nos últimos anos, e a queixa mais comum nas salas de aula é de que o aluno copia tudo certo e/ou não, mas que não sabe ler (Ellis, 1995). É preciso que o professor compreenda que, para ler, escrever ou mesmo fazer uma cópia, a criança faz uso de diferentes funções do cérebro. Godoy (2003) destaca que as crianças com obstrução nasal apresentam dificuldades gerais de atenção, ou seja, problemas relacionados ao funcionamento das redes cerebrais de alerta, de execução e de orientação. Dessa forma, essas crianças têm a mesma atitude dos alunos com distúrbios de atenção, que apresentam dificuldade de concentração e de controle da atenção voluntária e seletiva. A consequência assim estará na dificuldade em selecionar estímulos, ocasionando conseqüentemente erros de atenção ao copiar e/ou resolver operações matemáticas. A criança que apre-sentar em sala esses sintomas, e tiver como professor um profissional participante da grande parcela que desconhece os caminhos percorridos pelo respirador bucal, classificará a criança como desatenta. A formação dos docentes que atuam em Centros de Educação Infantil, escolas do Ensino Fundamental e não têm conhecimento sequer superficial dos assuntos aqui tratados, é o que demonstra o censo escolar, que destaca ainda que dos professores que atuam nas creches brasileiras, 69% têm curso médio completo e apenas 12,9% possuem nível superior (UNESCO, 2003),Outro “problema”, segundo a (UNESCO, 2003) é que a graduação em Pedagogia não oferece uma formação específica para docentes da Educação Infantil. A grade curricular do curso de pedagogia nas academias colabora e, em muito, para essa falta de “formação” dos docentes. A neuropsicologia, uma disciplina que trabalha especificamente com o desenvolvimento neural, é de suma importância para a formação profissional de um indivíduo que atue na educação de crianças A importância e a necessidade de serem realizadas pesquisas nesta linha e também de uma formação que contemple o desenvolvimento da criança, se faz mais que necessária, para que posteriormente não sejam vistas nas pesquisas do INEP, bem como outros órgãos dessa mesma competência os índices alarmantes de evasão escolar, que se escoram na pobreza e na miséria como fatores de risco.



Fonte: Referências:American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4td ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1987.BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 3ª ed. – São Paulo: Saraiva, 1988.CECCON, Claudius. Oliveira. Miguel Darcy, Oliveira. Risiska Darcy. A vida na escola e a escola da vida. 15ª ed. Vozes. Petrópolis, 1986.Du Paul GJ, Barkley RA, Connor, DF. Stimulants. In Barkley RA, ed. Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and tratment. New York, NY: Guilford; 1998:510-551.ELLIS, Andrew W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. Trad. Dayse Batista. 2ª edição – Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.FISCHER, M, BARKLEY. R. A. Young adult follow-up of hyperactive children: self-reported psychiatric disorders, comorbidity, and the role of childhood conduct problems. J Abnorm Child Psychol. 2002; 30: 463-475.GODOY, Mirian Adalgisa Bedim. Problemas de aprendizagem e de atenção em alunos com obstrução das vias aéreas superiores – dissertação de mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Estadual de Maringá, 2003.LUFT, Celso Pedro. Minidicionário Luft. 20ª ed. Editora Ática. São Paulo, 2001.The MTA Cooperative Group. A 14-month randomized clinical trial of tratment strategies for attention-deficit/hyperactivity disorder. Arch Gen Psychiatry; 1999.UNESCO: Fontes para a Educação Infantil – Brasília: UNESCO; São Paulo: Cortez; São Paulo: Fundamentação Orsa, 2003.UNESCO. Servicios Basicos para los ninos. La determinacion constante de las prioridades en materia de aprendizage. Paris, 1980.


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